Breve história das mascotes natalícias

Um ano, a meio de Agosto, Jesus decidiu planear o Natal mais cedo. Começar por uns teasers, introduzir mais anúncios de brinquedos progressivamente e atrair a criançada. Já Outubro ia entradote quando percebeu que os putos não lhe ligavam peva. Chamou o seu Primeiro Secretário e questionou-o sobre o assunto.

- Sabe, meu amo, as crianças já não respondem à Sua imagem como antigamente. Até o Seu gordo ajudante está a perder terreno. Temos de mudar de estratégia! - urgiu o nervoso assistente.

- Hmmm, sim, tens razão... Até porque o badocha do Pai Natal está a custar cada vez mais ao departamento de Marketing. Sem falar que, com o novo regime de comparticipações, o bypass gástrico vai ficar uma fortuna.

Jesus dedicou toda uma semana à profunda reflexão. O que poderia surpreender as crianças? Mandar-lhes uma bojarda à cara e elas, sem tempo para assimilar o que se passava, reagiam com aceitação e estúpida adoração...

Voltou a chamar o seu secretário:

- Diz-me, fiel servidor, quais são os animais mais dispensáveis? Aqueles que Adão e Eva andam mortinhos por se ver livres?

- Ah, refere-se à avestruz...

- Que têm eles contra ela?

- Acham-na parva. É antipática e tem a mania. Nunca os cumprimenta. E atenção que isto não é diz-que-disse. Eu vi!

- Pois, pois. E mais nenhum?

- Também não nutrem especial afecto pelo hipopótamo. Tenta sempre comê-los e tal e logo eles que até gostam de passear para aqueles lados.

- Estou a ver, estou a ver... Obrigado. Quando precisar volto a chamar-te.

Foi nesse momento que Jesus teve uma ideia brilhante: relegar o Pai Natal para sidekick (e há que dizer que ele foi muito pouco gracioso na forma como reagiu à despromoção) e transformar a hipopótama e a avestruz mais odiadas do Éden em ícones sexuais da pequenada. Sim, ele estava consciente do oxímoro quando pensou na coisa.

E pronto, foi assim que limpou o Paraíso de indivíduos ingratos e presunçosos e viciou os petizes em personagens que, simultaneamente, os leva a comprar e a questionar por que é que as galinhas do vizinho do lado se tornaram, de súbito, tão atraentes e lascivas.

Agora já sabem de ondem vêm a Leopoldina e a Popota.