setembro 05, 2014

Lothlorien, um portento na ajuda ao próximo

Antes de mais nada, uma breve contextualização. Eu moro por trás de um centro de distribuição de estupefacientes. Droga, vá. Ao mesmo tempo, este cenário glamouroso é também habitado por gente de bem que não olha duas vezes para a plebe que quase atropelou a bordo do seu BMW comprado há 4 meses, e por velhinhos amorosos que continuam a encarar a zona como o bairro simpático e com espírito de entreajuda de há 40 anos. Não é. É uma selva urbana do salve-se quem puder.

Com esta ilustração em mente, pensem na vida difícil que os supramencionados velhinhos terão. É aqui que entra em cena Lothlorien, a boa samaritana do séc. XXI. Vou eu toda contente a descer a rua, a caminho de um almoço que ainda tinha de ser feito, quando vejo uma senhora quase sem se mexer e com a mão em cima do coração. Agarrei o telemóvel, convencida de que iria ter de chamar uma ambulância, que a senhora parecia prestes a cair. Acerquei-me e perguntei-lhe se precisava de ajuda.
- Ai, menina, que eu moro ali e estou que nem posso do meu joelho! - nesta altura, o braço dela já estava entrelaçado no meu. É claro que eu ia ajudar a senhora de boa vontade, mas isto foi quase coacção.
Pronto, lá ajudei eu a senhora a atravessar a rua até casa na estonteante velocidade de 2cm por minuto.
- Muita saúdinha, menina. Foi a única pessoa que parou para me ajudar.

Sacanas insensíveis… Por outro lado, eu também fui a única que parou tempo suficiente para que a senhora conseguisse agarrar um braço, qualquer braço, portanto é possível que seja mais por aí.

200m à frente encaminhei um homem para o bairro do Aleixo, esse grande supermercado da droga, cujos pregões eu ouço do terraço do meu prédio. Ele perguntou-me qual era o caminho mais rápido para o Aleixo e eu fiz a minha segunda boa acção no espaço de 10 minutos.

Continuei o caminho cheia de uma realização que só o altruísmo dá, qual Madre Teresa dos 2010s. No fim de contas, se ainda não nasceu uma herdeira à altura, eu vou dando para o gasto.


Não, espera!…