fevereiro 11, 2015

Damn, what's the deal with #3

Há uns anos chegou a tribunal um caso de difamação contra o Rui Rio porque uma revista (jornal? Não me lembro e não sou pessoa de grandes pesquisas) publicou uma foto de um edifício com uma parede onde se lia "Rui Rio FDP". Isto apareceu na capa (pois, acho que foi uma revista) e deu origem a um processo judicial. Todo o caso é risível, mas a defesa do editor é hilariante. Em traços gerais, o senhor disse que não estava indirectamente a chamar Filho Da Puta ao Rui Rio como aquela publicação indiciava. O que ele achava, na verdade, é que ele era um Fanático Dos Popós.

(Para vossa informação, filho da puta não constitui injúria. Filho de puta, sim. É daquelas minudências que poderão ser úteis no futuro.)

Não sei se o Rui Rio é ou não um fanático do popós, não acompanhei o desenrolar da história. Sei que há, de facto, muitos fanáticos dos popós por aí. Conheço alguns, aliás. Mas haver tipos com uma obsessão pouco saudável (nem que seja por motivos ambientais) por carros é do conhecimento geral. O que eu não sabia é que havia fanáticos das bicicletas. Por uma questão de consistência na idiotice da nomenclatura, vamos apelidá-los fanáticos das bicis. O que me leva a esta terceira edição da rubrica "Damn, what's the deal with…?".

Damn, what's the deal with bike fanboys?



E por 'bikes' não quero dizer motas, quero mesmo dizer bicicletas. Desculpem, bicis.
As bicis têm ganho espaço nas nossas cidades. Cada vez se vêem mais pessoas a deslocar-se de bici para o trabalho ou para a escola e eu acho isso um enorme progresso, mesmo que isso implique a subida da rua Nossa Senhora de Fátima a pé porque não se tem força de pernas suficiente para levar aquilo até ao fim. Enfim, é de elogiar o compromisso de algumas pessoas com bicis, até porque só traz vantagens: é ecológico, estaciona-se em qualquer lado, melhora a condição física e fica muito barato. 

No entanto, e há aqui um enorme 'mas', a bici não nos leva a todo o lado com eficiência. Se eu quero ir de Aveiro ao Porto, faz-se, claro, mas é um atraso de vida, sobretudo se se tiver bagagem. Já nem falo no conforto de um carro ou de transportes públicos no caso de estar muito frio ou a chover. Qualquer pessoa razoável percebe, mas os fanáticos das bicis (FDB., para facilitar) não. Ou melhor, percebem, mas optam por ignorar o óbvio. E é esta perspectiva da realidade, que opõe pessoas racionais a obcecados, que faz a distinção entre pessoas normais - que, ok, vêem e fazem uso das claras vantagens da bici, mas compreendem as suas limitações - e os FDB. 

Os FDB são pessoas cuja vida gira em torno da bici. Para o FDB, a bici não existe para o servir ou para lhe facilitar a vida, é ele que a serve e, por isso, o FDB vive em função da bici. A bici não é utilizada só nas circunstâncias em que é mais competitiva. Não, o FDB recorre à bici em todas as situações, mesmo quando é claríssimo que a bici só lhe vai complicar a vida. Mas o FDB, sendo um FDB, não vai reconhecer factos, pelo que vai imputar a culpa pela sua cegueira a outrem. 

Outrem é, neste caso, uma coisa. Um carro, para ser mais concreta. Também podem ser pessoas, todas aquelas que não são também FDB e que defendem minimamente e/ou usufruem de carros. É verdade que existem carros a mais e há uma excessiva dependência do automóvel. Infelizmente, a nossa rede de transportes públicos está longe de ser perfeita e a situação piora quando se sai das grandes cidades. Acontece que o FDB é um fanático e, como tal, insensível às dificuldades alheias. Portanto, não fica tocado quando alguém lhe diz que tem de estar no trânsito durante 45 minutos para chegar ao trabalho porque não tem alternativa. "Ah, mas tens", responde o FDB. "Faz como eu e vai de bici para o trabalho."
- Mas eu tenho de ir de fato e gravata. Vou lá chegar todo suado e amarrotado.
- Vais com outra roupa e trocas quando chegares.
- Mas eu tenho filhos e tenho de os deixar no infantário…
- Eles que vão também de bicicleta!
- Mas os meus filhos têm 1 e 3 anos e moramos a 20 km da cidade. Temos mesmo de usar o carro.
- Então és um assassino.
- Mas, mas…
- Assassino!

Porque é isso que todos os condutores são para os FDB: assassinos. Não há cá diferenças de carácter entre os milhões de condutores, são todos, mas todos, uns homicidas que não permitem aos FDB pedalar livremente. 

Os FDB têm amigos que são, nas suas palavras, assassinos, e tentam rebater o apodo. Penso que não é preciso dizer que o fazem sem sucesso. Logo os FDB vão desencantar estudos e estatísticas, e que a verdadeira vítima da estrada não é o peão, mas sim a bici, e que estacionam em passeios e em cima de ciclovias, e que deviam morrer todos, e tudo e tudo e tudo. 

Têm razão em alguns pontos, claro, mas o pior de tudo, aquilo que torna os FDB insuportáveis é que são a versão bici urbana da Testemunha de Jeová: todos os que não são FDB são hereges e cegos; tentam evangelizar sempre que surja a oportunidade, que vai surgir, porque eles não falam de mais nada; e não se calam! Nunca! É o único assunto que têm, portanto vão impingi-lo a toda a gente seja qual for o tópico de conversa.

Pessoa normal - Viste aquele filme ontem? Estava espectacular!
FDB - Reparaste naqueles 30 segundos, quando filmam a garagem, que ele tinha uma bici? E faz sentido porque as bicis são o melhor meio de transporte que existe e os condutores são assassinos.

Ah, já referi que todos os FDB com quem me cruzei são solteiros sem filhos e os amigos com quem convivem no dia-a-dia são, também eles, FDB? Pronto, é isso.


Até ao próximo Damn, what's the deal with…?